Homenagem a Zé Forguet

Este blog é uma homenagem que fazemos a José Carlos Filho, o Zé Fogueteiro, ou Zé Forguet, como é chamado pelos amigos mais chegados...,poeta dos sertões de Juruaia, cidadezinha do sul de Minas.

Seus versos, cheios de referências pitorescas, falam de tempos e lugares únicos, onde a simplicidade e a natureza são sua marca maior. Revelam, igualmente, uma alma generosa, que um dia se pôs a escrever poesias de uma graça singular. São estrofes que tem o poder de tocar a alma de todos aqueles que nelas mergulham, e permanecem na lembrança como frutos de uma vida cheia de amor e de paixão por sua terra natal.

Deixamos aqui um tributo a esse homem matuto que, sem saber, formava um acervo mais que exemplar, digno de um Graciliano Ramos...

Que Deus o abençoe, Zé Forguet, poeta da simplicidade, e que suas trovas possam enlevar muitos corações, propagando a cultura desta terra tão querida, Minas Gerais e seus sertões...


Pequena Biografia de Zé Forguet

José Carlos Filho, conhecido como “Zé Forguet”, ou “Zé Fogueteiro”, filho de José Carlos de Oliveira, e Clara Maria de Oliveira, nasceu em 31/07/40, no bairro Cocorobó, distrito de Juruaia, município de Muzambinho MG.

Fez seus primeiros estudos na antiga escola Reunidas de Juruaia, de maneira muito irregular, pois tinha que ajudar seus pais em seus trabalhos diários. Depois, frequentou por algum tempo o Grupo Escolar Eduardo Senedese, sem, contudo, terminar o curso primário. Na pré-adolescência, ajudava seu pai nos afazeres da roça, como também na confecção de fogos de artificio, fato que lhe deu a alcunha de “Zé Fogueteiro”.

Sendo interessado nas coisas da roça e principalmente às relacionadas aos animais, veio, ainda novo, a trabalhar no transporte de boiadas, desde o centro-oeste de Minas Gerais, sul de Minas, até Araçatuba e Presidente Prudente, em São Paulo, entre outras.

Na sua juventude exerceu diversas profissões, como por exemplo, servente de pedreiro e marceneiro, além de trabalhar na confecção de selas para cavalos. Depois, indo para São Paulo, trabalhou como metalúrgico, quando tornou-se funileiro e pintor de automóveis. De volta a sua terra natal, montou uma pequena oficina de reparos, onde trabalhou muitos anos até se aposentar.

Tem profundo amor pelos animais e a natureza, os quais defende com todo ardor. Ama a moda caipira, assim como toda boa música, desde o samba ao clássico, e as conhece como poucos, letra, música e autores. Entende muito de cinema, do bom cinema, como do bom livro. Tem excelente cultura, sem ter tido escola. Possui caráter forte e inabalável, riqueza herdada de seus antepassados, nobres formadores do povo mineiro.

Mineiro como poucos, gosta de subir as montanhas só para ver o que há do outro lado, e de lá, do cimo, divagar sobre a grandeza do universo. Entre seus prazeres, escrever é ao que mais se dedica. Com sua maneira simples, retrata a saga do homem do interior, seus amores e decepções, sua terra, seus animais, as coisas que estão sendo destruídas em prol do progresso, que esquece o homem e a natureza.

Crítico feroz da improbidade, da falta de caráter, da ganância e da ignorância. Levado pelas imposturas e pela dureza da vida, não conseguiu frequentar escola regularmente, pois tinha que sobreviver. Se assim não fosse, seria seguramente um prêmio NOBEL, se esse prêmio fosse dado apenas aos homens com H maiúsculo.


SOBRE AS POESIAS

As poesias aqui publicadas foram compostas em linguagem caipira, e contém palavras próprias do linguajar caboclo, interiorano, mineiro...coisas do Zé Forguet, como é chamado carinhosamente pelos amigos...Procurei ser o mais fiel possível aos originais escritos a caneta esferográfica sobre papel pautado, fazendo apenas pequenas correções quanto à grafia ou acrescentando algum artigo porventura esquecido. Mas mantive aquelas palavras que sei que fazem parte do vocabulário do Zé Forguet, e não me preocupei em consertar alguns pequenos deslizes de concordância ou grafia, para não tirar a pureza e a originalidade de suas composições. Assim, palavras como mourada, prantação, exageiro, feichada, simpricidade, corguinho, compõem as singelas poesias do Zé. Como ele mesmo diz em seu poema RETRATO DO MEU PAI: "desculpe se escrevo errado, é que não sou bem letrado..."





quarta-feira, 8 de abril de 2015

LUAR DE JURUAIA

Sentado aqui na calçada
em frente à velha mourada
onde eu fico matutando:
vendo as estrelas no alto
bem distante do asfalto
lá no alto cintilando...

Contemplando o céu azul
vejo o Cruzeiro do Sul
na noite já avançada:
me distraio e, de repente,
desce uma estrela cadente
na noite enluarada...

É noite alta e deserta
minh'alma está desperta
quanta paz? quanta pureza?
a noite, esse eterno manto
onde estrelas e pirilampos
dão requintes de beleza...


Segue a Lua vaidosa
lá no alto, preguiçosa
elegante em seu clarão:
lado oeste iluminado
eu vejo um ponto elevado
lá pras bandas do sertão...

Meus olhos não ignora
é a Serra da Caipora
Serra mais alta que há!
Ouço longe a barulheira
das águas da cachoeira
lá do alto a despencar...

Daqui não fica distante
o Riacho do Mirante
deslizando sem parar:
é curta sua extensão
juntando-se ao ribeirão
vai para as bandas de lá...

Longos anos se passaram
as águas sempre rolaram
no tempo que se dispara:
tudo vai se transformando
novas vidas vem chegando
porque o tempo não para...


Distante da mocidade
na velhice a saudade
mostra a vida se acabando:
coberta por nuvem escura
a lua lá nas alturas
também vai se apagando...

Ainda estou sentado
olhando o céu azulado
qual vestido de cambraia:
passei olhando o infinito
vendo o quanto é bonito
o luar de Juruaia...

ALMA SOLITÁRIA

Estrela do anoitecer
que durante a noite inteira
com a força viageira
a força do existir:
em vez de estrela cadente
tu és estrela luzente
que ao mundo quer sorrir...

Oh! Alma solitária
que a vagar pelo espaço
tropeçando no fracasso
em busca da nuvem clara:
alma que viveu em pranto
busca outra alma, e no entanto
se recolhe e se cala...

Eu sou a alma perdida
que sem rumo pela vida
da vida busca razão:
já cansada de existir
sem motivo pra sorrir
se esforçando pra sentir
ser feliz na solidão...

PRUQUÊ SERÁ? poesia em linguagem caipira

Tá fazeno muito tempo
tanto tempo qui nem sei
pruque é qui mi lembrei
si só traiz judiação?
Inda mim lembro
tinha festa na capela
tava eu i tava ela
era noite di São João...



Faiz muito tempo
qui tudo isso acontece
festejo, louvô i prece
assim é no arraiá:
passemo a noite
tudo im vorta da fuguêra
qui quemava noite intera
inté o dia clareá...



Passa-se as hora
passa o dia, passa o tempo
só fica no pensamento
mutivo pra si lembrá:
naquela noite
di muita satisfação
pra fazê minha oração
eu também tava lá...

Foi aí qui cunheci
uma morena facêra
i pela veiz primera
chamei ela pra dançá:
noite inteirinha
dancemo cum alegria
inté qui raiô o dia
fui então lhe acumpanhá...

Fui ficano apaxonado
pur teu oiá feiticero
era o meu amô primero
i cumecei a sonhá:
sonho bunito
qui mi deu tanta esperança
i hoje resta a lembrança
du que num vai mais vortá...

Incontrei quem eu quiria
mi tornei um sonhadô
só pensava no amô
qui mi deu tanta ilusão:
eu quiria transformá
o sonho im realidade
mais veio a fatalidade
e atirô meu sonho no chão...

Um ano mais si passô
i eu vortei lá na capela
quiria incontrá cum ela
i rezá prá São João:
mais nesse dia
ho! meu Deus
o qui é qui eu vejo
vinha na rua um cortejo
i ela dentro du caixão...

Essa lembrança
mi tormenta noite i dia
a vida ficô vazia
perdi a muié querida:
qui foi tão cedo
prá morá lá nas altura
só dexano essa amargura
qui carrego pela vida...




Tô cansado di sê triste
vivê só sem tê razão
priguntano a São João
pruque foi acontecê?
I toda veiz
qui eu vô lá na capela
parece qui vejo ela
pruquê será? ...Pra quê?

terça-feira, 7 de abril de 2015

GALOPE

No meu galope montado
galopa meu pensamento
na distância, nas alturas
galopando contra o tempo:
percorrendo a ampridão
vaga no espaço sem fim
quer alcançar uma estrala
que está muito além de mim...


Acompanha a brisa mansa
que vem lá do fim do mar
das flores nunca colhidas
leva perfumes no ar:
lírios, cravos e avencas
que nos campos são nascidas
rosas, dálias e jasmim
flor da noite e margaridas...






Revoando os pirilampos
vão brilhar na escuridão
desafiando as estrelas
longe da constelação:
as estrelas desgarradas
se disprendem pelo ar
são as estrelas cadentes
já cansadas de brilhar...

Vendo a lua vaidosa
a vagar pelas alturas
lançando raios de prata
clareando a noite escura:
encanta aves noturnas
que se escondem nos barrancos
onde repousa a coruja
que piando causa espanto...

Todas aves se revoam
abandonando as galhadas
estrelas perdendo a cor
visita a manhã raiada:
com medo da nuvem clara
com pudor vai se esconder
querendo se repousar
pertinho do amanhecer...


Ensistindo no galope
galopa meu pensamento
vence distância e altura
galopando contra o tempo:
a estrela procurada
um dia vou encontrar
montando o vento uivante
pro galope não parar...


MUDANÇA DO MEU LUGAR

Voltando pro meu sertão
fui chegar ao meu ranchinho
distante do povoado
lá na beira do caminho:
grande foi minha tristeza
ao ver a velha mourada
a estrada boiadeira
encontrei toda asfaltada...







Até a velha paineira
que eu brincava em criança
em sua sombra os namorados
trocavam juras de esperanças:
todo ano eu te esperava
ver de novo florescida
choro vendo o chão vazio
onde fostes abatida...


Aquele carro de boi
que atravessava o serrado
está agora apodrecendo
na varanda sem telhado:
no fundo do mangueirão
quase nem sempre é notado
ficando ali esquecido
é um fantasma do passado...






Procurei pelo carreiro
velho carreiro João
pioneiro nas carreadas
na conquista do sertão:
ficando velho acabado
tudo na vida perdeu
no fim do ano passado
de desgosto faleceu...


Não se toca mais boiada
tudo vai de caminhão
os gritos de boiadeiros
silenciaram no estradão:
só os gritos de protesto
que se ouve no sertão
contra o avanço do progresso
temendo a destruição...

Nada aqui tenho a fazer
já não quero aqui ficar
o que tanto eu procurava
não fui capaz de encontrar:
e vendo tudo mudado
dos meus olhos pranto cai
não encontrei o carreiro
carreiro que era meu pai...


sexta-feira, 3 de abril de 2015

BOI FUMAÇA

Quanto mais avança o tempo
mais eu fico revoltado
sem esquecer o passado
tempo em que fui carreiro:
da mente nunca se apaga
o descaso, a crueldade,
a ganância, a maldade
que transforma em desespero...

Só resta no pensamento
meu carro, minha boiada
a poeira das estradas
o espigão do serrado:
fecho os olhos e vou revendo
em fila, meus bois valentes
e eu, carreando contente
mesmo sendo empregado...



Nas estradas estreitinhas
levando cargas pesadas
eu gritando com a boiada
subia o morro Durú:
além da triste cantiga
não se ouvia um gemido
a não ser fortes rangidos
de arrochos de couro cru...





Na colheita do café
na safra do algodão
com tanta agitação
o trabalho era doubrado:
naquela luta constante
na fazenda Abadia
com tanta mercadoria
pra levar até o povoado...

Cada boi tem seu valor
boi de guia, boi coiceiro
vou falar sem exageiro
de um boi de precisão:
ganhou nome de fumaça
nome dado pela cor
boi coringa, professor
ia em qualquer posição...

neste mundo tudo passa
e o tempo vai passando
o progresso vem chegando
como um monstro incantado:
carro de boi é trocado
por trator e caminhão
carreiros de profissão
todos foram despedidos...

E a boiada carreira
que dava gosto de ver
condenada a morrer
foi levada para o corte:
só ficando o boi fumaça
que fugiu do mangueirão
fazendo que o patrão
adiasse a sua morte...

Mas não levou muito tempo
chegou mais um triste dia
da tapera que eu vivia
lá na beirinha da estrada:
no rumo da Abadia
vi passar dois cavaleiros
tocando dois sinueiros
senti a espinha gelada...

Passadas algumas horas
voltavam os dois cavaleiros
e junto aos bois sinueiros
o fumaça caminhava:
e quando por fim me viu
perto da cerca, parado
caminhou para o meu lado
enquanto meus olhos chorava...

Veio lamber minha mão
num gesto de despedida
temendo por sua vida
e do que vinha a acontecer:
e estalando um chicote
o carniceiro gritava
para o boi que retirava
"não tenho tempo a perder"...

E eu vendo o boi carreiro
que afastou descontente
foi andando lentamente
se sumindo no estradão:
tão pequeno eu me sentia
sem poder me conformar
não fui capaz de salvar
o meu boi de estimação...



quinta-feira, 2 de abril de 2015

A ESTRELA

Ah! Estrela que ao despertar
ilumina meu viver
nasce quando a noite desce
morre ao amanhecer:
ilumina a noite escura
minha rota a percorrer
ilumina minha vida
estrela do amanhecer...



Quando desce o véu da noite
é a primeira que aparece
depois da Ave Maria
depois de ouvir minha prece:
seu brilho vai aumentando
conforme a noite escurece
vai perdendo o brilho e cor
depois que o dia amanhece...



Não é estrela cadente
nasceste para brilhar
no azul do firmamento
ninguém vai te alcançar:
Estrela do amanhecer
que eu vivo a admirar
antes de você se apagam
todos raios de luar...

O mundo todo contempla
teu clarão, teu esplendor
tua cor é cor de prata
si é que prata tem cor:
quando você aparece
esqueço a tristeza e a dor
esperando que me digas
onde está o meu amor...


terça-feira, 31 de março de 2015

FALTA DE AMOR




Quando a porteira fechou
bateu forte no mourão
foi pancada dolorida
que feriu meu coração:
a mulher que foi embora
sem sequer dizer adeus
desprezando meu ranchinho
me deixando aqui sozinho
sepultando os sonhos meus...




Quando olho na estrada
coberta pelo areião
mais triste volto pro rancho
onde abraço a solidão:
onde mora a saudade
a tristeza não tem fim
por isso eu pergunto agora
será que onde ela mora
inda se lembra de mim?...

Eu passo horas sentado
na sombra do buriti
só pra nunca esquecer
que com ela eu sentava ali:
procuro numa canção
amenizar minha dor
mas cantar eu não consigo
somente sai um gemido
deste peito sofredor...

À noite, em meu quarto triste
choro sem consolação
abraçando a saudade
durmo com a solidão:
quando por fim adormeço
sonho abraçar meu amor
que foi tudo em minha vida
mas dessa flor tão querida
eu não fui merecedor...


Sozinho vou me acabando
desprovido de amor
perdendo quem tanto quis
perdi todo o meu vigor:
meu rancho é rancho triste
e rancho de sofredor
com meu coração magoado
do mundo vivo isolado
sofrendo falta de amor...

COMO ESTEIO DE AROEIRA de Carlinho Goiano e Zé Fogueteiro

Velho esteio de aroeira
que foi árvore florida
na aurora da minha vida
cruzaram nossos destinos:
no decorrer da infância
tua sombra me acolhia
no avançar do dia a dia
eu deixei de ser menino...


E como a brisa que passa
eu saí da pouca idade
sonhos de felicidade
era tudo que eu buscava:
o vento forte soprando
e as folhas a balançar
pareciam sussurrar
meu amor ali chegava...

Embalado pelos sonhos
eu não via desenganos
com o passar de poucos anos
fui ficando desatento:
foi então que conheci
uma cabocla faceira
uma paixão traiçoeira
dominou meu sentimento...

Iludido como estava
só via ela e mais nada
com a alma alucinada
só pensava em seus carinhos:
vencido pelo egoísmo
na minha mente só veio
te abater para esteio
sustento do meu ranchinho...

Te agredindo com machado
não entendi seu gemido
deixei no chão estendido
sem perceber fui cruel:
na ilusão de ser feliz
o que se faz vale à pena
abraçado à morena
meu ranchinho era um céu...



Já diz o velho ditado
tudo que é bom tem um fim
ela, cansada de mim,
foi em busca de outro amor:
vencido pelo ciúme
segui os dois e matei
foi assim que me vinguei
apracando meu rancor...

a partir daquele dia
minha vida foi ao chão
vinte anos de prisão
fiquei ausente do mundo:
da vida já nada espero
vivo com a solidão
que maltrata o coração
esse desgosto profundo...

troquei o verde das matas
por este mundo cinzento
só remorso e sofrimento
pela vida carreguei:
essa amargura no peito
me assola a todo momento
meu Deus, que arrependimento
do dia em que eu te cortei...
 
"Carlinho, onde estiver, meus respeitos..."

NÃO MORREU versão de Zé Fogueteiro

Faz tanto tempo que eu guardo um sofrimento
recordando o que foste em meu viver:
já faz tempo que arrasto um sentimento
porém não consigo te esquecer.

Nossas vidas se perderam na distância,
meu amor por você não floresceu
hoje vive embalada em outros braços
e eu carrego este amor que não morreu.


Digas para que eu possa compreender
porque sempre, sempre fui tão desprezado
sabendo que te amo e tu me amas
e ter esse amor sempre negado?

Não te peço nem te imploro compaixão
só te peço que escute esta canção
esse amor viverá em minha mente
e você dentro do meu coração.

sexta-feira, 27 de março de 2015

NÃO ERA MEU

Meu pensamento procura
um amor que já foi meu
inspiração dos meus sonhos
sonhos que não floresceu:
na flora da existência
uma flor apareceu
seu nome era esperança
tanta esperança me deu:
acreditei no amor
amor que não era meu...

no mundo vivo vagando
porque a sorte não sorri
sem razão para viver
só vivo porque nasci:
só tenho aqui minha vida
nada mais que consegui
e mesmo assim vou perdendo
o pouco que não perdi:
a mulher que tanto amei
pra ela eu já morri

me acolhi na solidão
do mundo vivo isolado
a esperança que eu tive
ficou morta no passado:
devo cumprir minha sina
sina de um fracassado
pagando e cumprindo penas
penas sem ser condenado:
na prisão da minha vida
com sofrimento dobrado...

agradeço pela sorte
sem nada me lamentar
me embarquei num barco triste
que não tem onde chegar:
me sinto um dia sem sol
uma noite sem luar
uma estrela apagada
que já cansou de brilhar:
vou levado pela vida
até a morte me buscar...

ADEUS

Venho aqui por um momento
já passado tanto tempo
com você nos braços meus:
como chegar a tal ponto?
te envolver a este encontro
só pra dizer-lhe adeus?...

é muito difícil dizer
sabendo  não entender
e que ponto revoltar?
não encontro outra saída
de sair da tua vida
sem ter que te magoar...

vou partir não sei pra onde
o motivo não corresponde
vou partir vai ser agora:
sei que vou lhe abandonar
sem saber lhe expricar
eu tenho que ir embora...

por favor, não digas nada
deixe eu seguir minha estrada
caminhos que eu não sei:
não sei se o sonho acabou
sem você eu nada sou
mas é assim que manda a lei...

não é que eu seja covarde
isso saberá mais tarde
porque não te revelar?
o que vai acontecer
só o futuro vai dizer
porque um dia eu vou voltar...

sendo tão bela, tão pura
a mais doce criatura
vou deixar-te enquanto é tempo:
nossas promessas e juras
nosso amor, nossas loucuras
consequência do momento...

vendo o quanto estou afrito
olhe para o infinito
ponha fé nos dias teus:
você de tudo é capaz
busque força, busque paz
enquanto é tempo, amor...adeus...

VOU VOLTAR PRO MEU SERTÃO

De regresso à minha terra
vou cortando estradão
vou atravessando serras
por chapadas e grotão:
quero rever minha gente
montar meu velho alazão
galopar pelo serrado
voltando pro meu sertão...



pra rever minha mãezinha
aos pés da santa a rezar
para que a Virgem Maria
sempre nos abençoar:
quero beber água na fonte
ouvindo o seu murmurar
quero ouvir por todo o canto
passarinhos a cantar...



aquele velho caminho
que percorria em criança
lá no alto da colina
acendi minha esperança:
lá encontrei minha amada
que não me sai da lembrança
um lindo botão de rosa
colhido na minha infância...



pra voltar pra minha terra
estou de malas na mão
quero deixar a cidade
onde vivi de ilusão:
quero rever o ranchinho
que fica no baixadão
carregado de esperança
vou voltar pro meu sertão...

quinta-feira, 26 de março de 2015

MULHERES DE JURUAIA

Mulheres de Juruaia
desfilando na cidade
forma uma nuvem vermelha
gritando por liberdade:
mulheres de toda classe
jovens, crianças e anciãs
por uma causa unidas
se tornam todas irmãs...

Percorrem vilas e bairros
e toda área rural
mostrando a todas pessoas
a luta de um ideal:
valente como guerreiras
a lutar com galhardia
empenho feito no centro
e em toda periferia...

Desfilam por Juruaia
com beleza e simpatia
buscando dias melhores
labutam no dia-a-dia:
professoras, funcionárias,
com a mesma dedicação
enobrecem o trabalho
orgulhando a profissão...

Numa luta com civismo
empunhando uma bandeira
buscam uma causa decente
uma causa verdadeira:
querem levar Juruaia
às trilhagens do sucesso
a bandeira empunhada
vem pedir ordem e progresso...

Mulheres de Juruaia
escreveram sua história
tiveram seus nomes gravados
numa página de glória:
a vitória vos espera
senhoras da minha terra
com a luta empenhada
a história não encerra...

Venho hoje a louvá-las
por essa luta honrosa
unidas e dedicadas
hão de ser vitoriosas:
vossos nomes serão lembrados
como o nome de Maria
encontrará sempre espaço
nas rimas de uma poesia...

A honra de Juruaia
que vieste a defender
à custa de ferro e fogo
novo hino vai nascer:
em páginas coloridas
carregadas de esperança
em louvor de Juruaia
pequenina Barra Mansa...

SEM SAÍDA

Se arrastando pela vida
rumo a um beco sem saída
onde só há perdição:
levo angústia e sofrimento
qualquer hora eu me arrebento
estou perdendo a razão...

Já não encontro caminho
onde estou, estou sozinho
pelo mundo maltratado:
com a canga no cangote
uivando como coiote
atravessando o serrado...



Enfrento o mesmo abandono
de um cão que perde o dono
a vagar pelas estradas:
e nas ruas da cidade
enfrentando a crueldade
de pessoas desalmadas...

Já nada espero da vida
vejo a esperança perdida
como um barco naufragado:
já perdi a moradia
o pouco que eu possuía
também já me foi tirado...

Hoje nada mais me ilude
já perdi a juventude
e tudo que foi sonhado:
tá me faltando trabalho
o que faço é quebra-galho
mesmo assim me sinto honrado...



Estou próximo do fim
se é que foi escrito assim
seja o que Deus quiser:
viver assim como eu vivo
sem ser preso, sou cativo
este mundo não me quer...

Já perdi o meu reinado
numa sombra do passado
sem querer me transformei:
se às vezes me vê sorrindo
não sabe o que estou sentindo
porque somente eu sei...

Arrastado pelo tempo
levo amargura e sofrimento
que marcaram os dias meus:
mesmo com a alma ferida
eu não vou perder na vida
é a fé que eu tenho em Deus...

VIOLA CALADA


A viola está calada
esquecida, abandonada,
por falta de cantador:
a muito tempo esquecida
como uma joia perdida
não demonstra mais valor...

Quem ouviu seu ponteado
não esquece seu recado
junto à voz do cantador:
seu ponteio na canção
toucava qualquer coração
que sofresse por amor...

Mesmo estando calada
faz lembrar velhas toadas
falando de um bem querer:
sem querer meus olhos chora
sabendo que foi embora
a razão do meu viver...
Vejo a Lua prateada
lembro as frias madrugadas
a cantar em serenata:
em frente a qualquer janela
cantando, eu pensava nela
vendo a Lua cor de prata...


Com o gemido do vento
o meu canto era um lamento
teu ponteio, um gemido:
tantas notas musicais
ficaram longe, lá atrás
com o tempo esquecido...
Velha viola calada
me dói vê-la desativada
ver que tudo emudeceu:
guarda as cordas enferrujadas
porque já foste doada
hoje é peça de museu...
Teu bonito ponteado
ficará sempre lembrado
por onde você passou:
quem te viu jamais esquece
teu ponteio era uma prece
junto à voz do cantador...

quarta-feira, 25 de março de 2015

PERTINHO DO HORIZONTE

Bem lá no alto do monte
pertinho do horizonte
um ranchinho ainda existe:
todo velho, esburacado
pelo tempo desgastado
tudo ali é muito triste...
 
 
Foi lá que passei minha infância
meus sonhos, minhas esperanças
passei minha mocidade:
tive momentos de glória
que carrego na memória
e me dá tanta saudade...
 
À noite, por todo canto
só se via os pirilampos
voando de lá para cá:
sobre as rosas amarelas
banhada pelas estrelas
e os raios de luar...
 
No romper da madrugada
em coro, a passarada
cantava com harmonia:
e o galo no puleiro
cantando pro mundo inteiro
saudava um novo dia...
 
Até que eu fui embora
saí pelo mundo afora
levado pela ambição:
e nas luzes da cidade
mostrando capacidade
encontrei decepção...
 
Com aquela barulheira
dia, mês, semana inteira
só pensava em trabalhar:
sendo eu bom empregado
mostrava um trabalho honrado
nada tinha a reclamar...
 
Em um mundo diferente
no meio de tanta gente
distante do meu lugar:
meu mundo não era ali
por isso é que decidi
pro meu sertão regressar...
 
E voltei pra minha terra,
subi no alto da serra
fui rever o meu ranchinho:
vencido pela tristeza
eu chorei com a natureza
para não chorar sozinho...
 
 
Tudo vi no abandono
não vi seus antigos donos
que ali foi morador:
tudo foi se acabando
gente que foram tombando
prestar conta ao Criador...
 
E ali no alto monte
pertinho do horizonte
nada mais existe agora:
tudo ali se transformou
tudo ali se acabou
no dia em que eu fui embora...